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Via Varejo: história, crise e reposicionamento da gigante varejista

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Loja da Casas Bahia, que entrou em recuperação extrajudicial

Loja da Casas Bahia, que entrou em recuperação extrajudicial

O Grupo Casas Bahia, anteriormente conhecido como Via Varejo, é uma das maiores empresas do varejo brasileiro, com décadas de tradição na venda de eletrodomésticos, móveis e eletrônicos. A trajetória dessa gigante reflete tanto os desafios como as transformações do varejo nacional nas últimas décadas.

A história do grupo Casas Bahia

A história da Casas Bahia começa em 1952, quando Samuel Klein, um imigrante polonês, abriu uma pequena loja na cidade de São Caetano do Sul, São Paulo. O nome “Casas Bahia” foi uma homenagem aos seus principais clientes da época: migrantes nordestinos, especialmente baianos, que buscavam oportunidades no sudeste do país.

O grande diferencial da empresa foi o foco no crediário popular. Em um período no qual o acesso ao crédito era extremamente limitado para as classes mais baixas, a Casas Bahia democratizou o consumo ao oferecer condições facilitadas de pagamento, o que rapidamente impulsionou seu crescimento.

Ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990, a rede expandiu-se de forma agressiva, principalmente em São Paulo e outros estados do sudeste, tornando-se referência nacional no setor de varejo de móveis e eletrodomésticos.

Fusão e criação da Via Varejo

Entre 2009 e 2010, a empresa passou por um dos movimentos mais importantes da sua história: a fusão com o Grupo Ponto Frio, então controlado pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA). Dessa união nasceu a Via Varejo, uma holding que reunia as operações das duas marcas.

O objetivo era claro: enfrentar a crescente competição, sobretudo no segmento de comércio eletrônico, e ampliar sua liderança no mercado físico. A integração, no entanto, não foi simples. A dificuldade de unificar sistemas, culturas e operações foi um desafio constante na década seguinte.

A crise financeira do grupo

Em 2019, a família Klein, fundadora da Casas Bahia, recomprou o controle da Via Varejo. O movimento foi visto como uma tentativa de retomar os valores e a agilidade que fizeram a empresa crescer nas décadas anteriores.

Apesar do tamanho e da força das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, a Via Varejo começou a enfrentar sérios problemas operacionais. A falta de investimentos significativos nesse período causou atraso na digitalização, perda de eficiência logística e dificuldade de acompanhar concorrentes que apostavam forte no e-commerce, como Magazine Luiza e Americanas.

Impacto da pandemia e aprofundamento da crise

Com a chegada da pandemia da Covid-19 em 2020, a situação se agravou. O fechamento temporário de lojas físicas, combinado com uma estrutura digital ainda em processo de transformação, resultou em perdas financeiras expressivas.

O cenário macroeconômico, com alta da inflação, queda no poder de compra das classes C e D, e aumento das taxas de juros, afetou diretamente a clientela tradicional da empresa, que é mais sensível a variações econômicas.

Em 2023, o Grupo Casas Bahia viu suas ações despencarem mais de 70%, reflexo da dificuldade em gerar caixa, reduzir endividamento e enfrentar a concorrência de marketplaces digitais.

Reposicionamento de mercado

Diante desse cenário crítico, o Grupo Casas Bahia precisou repensar completamente sua estratégia de negócios. Em 2021, a empresa deixou oficialmente o nome Via Varejo para se chamar apenas Via, buscando reforçar sua imagem como uma plataforma de soluções digitais, não restrita ao varejo tradicional. 

Em setembro de 2023, a empresa decidiu reposicionar novamente suas operações, passando a se chamar Grupo Casas Bahia desde então.

Transformação digital

A transformação digital foi colocada no centro da estratégia de reposicionamento da empresa. Entre as principais ações estão o fortalecimento do e-commerce, o desenvolvimento de uma plataforma de marketplace, a criação de soluções financeiras, como o BanQi, e o lançamento do programa Me Chama no Zap, que conecta vendedores físicos aos clientes via WhatsApp.

Modernização das lojas físicas

Além disso, o Grupo Casas Bahia passou por um forte processo de modernização, com espaços mais interativos, ambientes tecnológicos e foco na experiência do cliente. O objetivo é tornar a loja física um complemento ao digital, e não um canal isolado.

Nova estratégia comercial

Nos últimos anos, a companhia também buscou diversificar seu público-alvo, oferecendo produtos e serviços que atendem não apenas às classes C e D, mas também aos consumidores das classes B e A, especialmente no segmento de eletrônicos, smartphones e linha branca.

Ajustes financeiros

Para enfrentar seu elevado endividamento, o grupo iniciou processos de renegociação de dívidas, venda de ativos não estratégicos, corte de custos operacionais e redução do número de centros de distribuição, buscando maior eficiência logística.

Desafios atuais e perspectivas futuras

Embora tenha feito avanços significativos em sua transformação digital e na modernização de processos, o Grupo Casas Bahia ainda enfrenta grandes desafios. A concorrência no e-commerce se intensifica com players como Mercado Livre, Magazine Luiza, Amazon e Shopee. Além disso, o cenário macroeconômico ainda apresenta incertezas, principalmente em relação ao crédito ao consumidor, que é vital para o modelo de negócios da empresa.

Contudo, as iniciativas adotadas nos últimos anos indicam que o Grupo está comprometido em construir um modelo mais sustentável, tecnológico e eficiente, capaz de competir no novo cenário do varejo brasileiro.

Imagem: Divulgação/Casas Bahia

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