Operação
Decodificando as tendências que impulsionam o setor de luxo
No setor de luxo, grandes players como LVMH, Kering, Hermès e Prada Group enfrentaram diferentes resultados no primeiro semestre do ano.
No portfólio da Kering, por exemplo, as vendas da Gucci refletiram tendências de queda no primeiro trimestre, enquanto a Bottega Veneta celebrou um recorde de receita no segundo trimestre, especialmente na região APAC.
A Hermès continuou a mostrar um crescimento robusto em todas as regiões, especialmente na Ásia, onde a expansão estratégica e boutiques renovadas fortaleceram sua presença.
A resiliência do mercado de luxo depende de tendências como consumo sustentável, planejamento financeiro cauteloso e um cenário de viagens em evolução. À medida que o setor se adapta às dinâmicas do mercado, a atratividade de certas marcas pode ser determinada por diversos fatores.
“Há um quadro misto quando se trata de gastos como setor de luxo entre afluentes e HNWIs na Ásia. Algumas categorias se saíram melhor que outras, enquanto diferentes países superaram seus vizinhos”, disse Meryam Schneider, diretora de marketing da Altiant, uma consultoria global com foco em bens de luxo e gestão de patrimônio.
Vencedores do primeiro semestre
Observando apenas as vendas, a LVMH conseguiu resistir a uma desaceleração, enquanto alguns grupos, incluindo Hermès e Prada, tiveram desempenhos excepcionais.
Kering, assim como Aeffe e Lanvin, não tiveram a mesma sorte no primeiro semestre, com suas marcas continuando a enfrentar dificuldades.
Para o Grupo Prada, o mercado APAC apresentou um progresso significativo durante o período, com um aumento de 12%. O momento da Prada permaneceu forte, impulsionado por uma estratégia eficaz e uma mistura bem equilibrada de categorias: uma combinação de novidades e clássicos sustentou artigos de couro, roupas prontas para vestir e calçados.
A Miu Miu também foi bem recebida, com iniciativas especiais como o Miu Miu Upcycled, o primeiro Clube Literário “Writing Life” da Miu Miu e o programa itinerante Miu Miu Summer Reads.
Resultados de luxo na Ásia
A Hermès viu todas as regiões geográficas registrarem crescimento substancial, mesmo em meio a uma base comparativa alta na Ásia durante o segundo trimestre.
A rede exclusiva de distribuição da marca continuou a evoluir com a introdução de novas lojas e expansões. Na Ásia (excluindo o Japão), houve um crescimento de 10% em todos os países.
Cada vez mais fundamental para a experiência do setor de luxo é a jornada no varejo físico. A associação de luxo italiana Altagamma observou em seu mais recente relatório que as marcas estão “correndo” para garantir imóveis em ruas de compras importantes, buscando elevar as boutiques com tamanho e design. Estas lojas reformuladas agora incluem um componente importante: consultores de clientes que se relacionam com VIPs “além do luxo”.
Isso certamente é o caso da Hermès, que em 2024 já viu uma grande expansão no varejo. Reaberturas notáveis incluíram a loja Lee Gardens em Hong Kong, a renovada loja Beijing SKP na China e a loja Mumbai Jio World Plaza, o terceiro estabelecimento da marca na Índia.
O renascimento da Prada parece estar em pleno andamento, beneficiando-se de suas raízes de herança e de uma nova clientela jovem e moderna.
Marcas como a Hermès, por outro lado, estão aproveitando serviços VIP e uma reputação de estar no topo do luxo.
“Especialistas podem atribuir a resiliência desses grupos a vários fatores, com as fortes vendas do Grupo Prada impulsionadas pela Miu Miu na Ásia. O que podemos contribuir é uma visão sobre a profunda lealdade à marca que tanto a Hermès quanto a Prada desfrutam entre consumidores afluentes”, disse Schneider.
Em pesquisas de conscientização de marca da Altiant focadas em sustentabilidade e luxo, ambas as marcas demonstraram alta conscientização espontânea, particularmente na APAC.
Compras continuam a crescer no Japão
As receitas no Japão dispararam no setor de luxo, incluindo a LVMH e Kering.
“O Japão está testemunhando um ‘dividendo duplo’, com [primeiro] um grande aumento no turismo e [segundo] um iene muito desvalorizado”, disse Michael Causton, fundador da empresa de pesquisa Japan Consuming.
“Combinados, esses fatores fazem com que os visitantes gastem em bens de luxo e outros itens de alto valor, que parecem muito baratos em comparação com a maioria dos outros países”, disse Causton.
Isso pode significar que os consumidores que planejam visitar o Japão estão adiando os gastos em seus países de origem, preparando-se para uma onda de compras enquanto estiverem no Japão.
Causton observou que alguns varejistas no Japão, como a Apple, não oferecem mais compras sem impostos.
Ao mesmo tempo, Causton destacou o ambiente de varejo atraente do Japão. “Os níveis de serviço ao cliente são excepcionais e especialmente atraentes para aqueles que não estão tão acostumados com eles, e a variedade infinita de compras excita o apetite de consumo.”
Mas não são apenas os turistas que estão gastando: os japoneses locais continuam a consumir marcas de luxo em várias categorias, de moda a beleza. Embora algumas lojas de departamento tenham relatado queda nas vendas, os ricos locais permanecem ansiosos para apoiar boutiques de luxo e lojas de departamentos com ofertas VIP.
A presença de riqueza no Japão é um fator importante – e um que permitiu a outros destinos ricos, incluindo Hong Kong, resistir a recessões econômicas.
O ‘subconsumo’ e o gasto com viagens
A tendência crescente de “subconsumo” pode estar inibindo compras, especialmente entre grupos mais jovens, segundo a Altiant.
Indivíduos afluentes e de alto patrimônio líquido continuam a ver o sistema financeiro com cautela – 56% dos entrevistados pela Altiant consideram-no “instável” e 16% o consideram “muito instável”.
Por uma perspectiva de confiança no mercado, os entrevistados asiáticos já se destacam como os mais otimistas, com 39,6% esperando uma melhora no desempenho das ações nos próximos 12 meses – significativamente maior que seus pares europeus e norte-americanos.
“Globalmente, as incertezas – incluindo a economia – parecem estar empurrando as pessoas para a necessidade de um melhor planejamento financeiro, mas também facilitando uma mentalidade de ‘carpe diem’,” disse Schneider, da Altiant.
Imagem: Envato
Informações: Manica Tiglao para Retail in Asia
Tradução livre: Central do Varejo