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Web Summit Lisboa 2025 apresenta Tilly Norwood, a primeira atriz 100% criada por inteligência artificial

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Tilly

A criadora, atriz e diretora Eline van der Velden, fundadora e CEO da Particle6 Productions, apresentou durante o Web Summit Lisboa 2025 a Tilly Norwood, considerada a primeira atriz totalmente desenvolvida com tecnologia de inteligência artificial. A personagem digital ganhou notoriedade global nos últimos meses e tornou-se um caso emblemático sobre o impacto da IA no futuro do entretenimento.

Eline explicou que Tilly não foi criada para substituir atores humanos, mas como uma experiência artística e tecnológica. “Sou atriz e criadora. Construir a Tilly foi como criar uma personagem, como montar uma boneca Barbie: decidimos sua aparência, emoções, senso de humor e personalidade. É um processo criativo semelhante ao de escrever um roteiro ou dirigir um filme”, afirmou. Segundo ela, o desenvolvimento da personagem levou cerca de seis meses e envolveu uma equipe de 20 pessoas.

A repercussão do lançamento foi maior do que o esperado, após Tilly aparecer em um vídeo experimental e posteriormente em uma produção da Sequoia Studios. “Era para ser apenas um pequeno anúncio do setor, mas acabou viralizando. E, curiosamente, a reação de Hollywood ajudou muito a carreira de Tilly”, contou Eline. Apesar da visibilidade, a criadora enfatizou que a personagem não assumirá papéis em filmes reais. “Ela faz parte de um novo gênero, o ‘cinema de IA’. Queremos criar histórias e universos próprios, como um Marvel Universe de personagens artificiais.”

Eline afirmou que a equipe pretende desenvolver 40 novos personagens de IA ao longo do próximo ano. Esses personagens poderão interagir entre si e formar um catálogo de produções que explorem a relação entre criatividade humana e autonomia digital. “Cada um será projetado com a participação de artistas reais, diretores e roteiristas. Tilly é diferente de outras IAs porque há muitos humanos por trás dela, em todas as etapas da criação”, explicou.

Questionada sobre as críticas da indústria cinematográfica, Eline respondeu que compreende o receio dos atores, mas reforçou que a proposta é colaborar com o setor, não competir. “Tilly nunca tirou o trabalho de ninguém e não vai tirar. Pelo contrário, criamos novos empregos para profissionais que cuidam dela e usamos IA para ajudar estúdios a reduzir custos de produção — com cenas sem atores, efeitos visuais e reconstruções digitais. Isso aumenta a viabilidade de projetos e abre espaço para mais produções com elenco humano.”

A CEO destacou ainda o compromisso ético da Particle6 no uso da tecnologia. “Somos muito rigorosos nas diretrizes e prompts. Não usamos a imagem de ninguém sem consentimento e acreditamos que o material usado para treinar os modelos deve ser licenciado. Nosso objetivo é criar algo novo, sem reproduzir o trabalho de outros”, afirmou. A empresa também se compromete a reduzir o impacto ambiental das produções, estimando que o uso de IA pode diminuir em até 90% a pegada de carbono de filmagens.

Durante a sessão, Eline revelou que tem recebido propostas de estúdios e herdeiros de artistas falecidos interessados em recriar digitalmente suas imagens, mas afirmou que esse tipo de projeto ainda exige uma discussão ética mais profunda. “Há casos em que talvez seja mais ético usar uma atriz de IA do que uma pessoa real, mas também é verdade que atores que já morreram não podem dar consentimento. No futuro, talvez as celebridades passem a incluir essa permissão em seus testamentos”, ponderou.

A criadora também comentou sobre o potencial da tecnologia para evoluir rumo à consciência artificial, embora com cautela. “Construímos camadas de personalidade, senso de humor e emoção. À medida que adicionamos complexidade, podemos chegar perto de algo que se pareça com consciência — mas isso ainda não é real. Por enquanto, é um processo artístico, não científico”, explicou.

Eline concluiu defendendo que a colaboração entre humanos e IA será o caminho natural para o futuro do cinema e das artes visuais. “O segredo está no equilíbrio. Quando há pessoas envolvidas em cada etapa — da criação ao design — o resultado é mais humano, mais criativo e menos genérico. A IA é como uma calculadora para o cérebro criativo: uma ferramenta poderosa, mas que precisa de direção e sensibilidade humanas para gerar algo que realmente emocione.”

Acompanhe a cobertura do Web Summit Lisboa 2025 no portal Central do Varejo e em nossas redes sociais!

Imagens e informações: Amanda Dechen, especialista em comunicação do MBA USP/Esalq

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