Economia

Balanço COP30: o varejo como agente de mudança socioambiental

Publicado

on

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) ocorreu entre os dias 10 e 21 de novembro em Belém do Pará. A conferência, que acontece anualmente, foi pela primeira vez sediada no Brasil, em meio à Amazônia, e foi palco de discussões sobre mitigação das mudanças climáticas e adaptação a elas, justiça climática e financiamento para transição energética. Com a aprovação do chamado Pacote Belém por 195 países, a conferência foi palco não só de negociações entre nações, mas também de mobilização da sociedade civil, do setor privado e do varejo como atores estratégicos na transição climática.

As decisões da COP30 — reunidas na nova Agenda de Ação da COP30 — destacam seis eixos: mitigação, adaptação, financiamento, tecnologia, capacitação e justiça climática. Entre os pontos mais relevantes para o varejo estão: o fortalecimento da economia de baixo carbono; a ênfase na rastreabilidade da cadeia de suprimentos e incentivos para práticas de economia circular, logística sustentável e redução de resíduos.

Para Tatiana Araújo, Diretora na Sustentati Consultoria, que esteve na COP30, a conferência deste ano debateu dois conceitos centrais: a transição climática e a adaptação. “Estamos trabalhando com duas agendas em paralelo. A transição climática, que é como a gente transiciona nessa economia para ela ficar menos dependente de combustíveis fósseis, como reduzimos as emissões de gases de efeito estufa e tentamos frear o aquecimento do planeta. E, ao mesmo tempo, a adaptação climática, porque já vivemos hoje os efeitos reais das mudanças climáticas no nosso dia a dia. Então precisamos pensar não só em como fazer a transição, mas também em como reduzir os impactos que já estão acontecendo. Como adaptar cidades e negócios para lidar com isso?”

Imagem: Hermes Caruzo/COP30

Varejo na COP30

Um exemplo de participação empresarial na COP30 foi protagonizado pelo Sebrae. Thyago Gatto, analista de inovação na empresa, esteve na conferência, junto a uma loja de bioeconomia montada dentro da COP, na blue zone. “A COP é um lugar restrito, historicamente ela não tem um ambiente de comercialização de produtos. Mas, nessa COP, nós negociamos e conseguimos junto à administração um espaço. Então, nós fizemos uma curadoria nos 27 estados brasileiros, levamos 250 empresas do Brasil inteiro para expor seus produtos”, conta Thyago.

Muito mais que gerar dinheiro e fazer vendas, a loja de bioeconomia buscou dar visibilidade para marcas que estão criando soluções. “O objetivo dessa loja era dar visibilidade a esses negócios, mostrar que é possível ganhar dinheiro, viver da natureza, de forma sustentável”, afirma o analista de inovação.

Ricardo Young, professor de ESG no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, destaca que as empresas estiveram na COP30 porque já perceberam uma mudança de paradigma no mundo dos negócios. “As empresas já captaram as tendências futuras, que vão ser uma economia de baixo carbono, de um aumento da regulação, maior risco de litígios climáticos, tendência à escassez de alguns recursos ambientais fundamentais como água. Então, as empresas já perceberam que esse não é mais um tema margem, é um tema estratégico e central para a sobrevivência dos negócios.”

E o comércio é, junto aos governos e à sociedade civil, um ponto chave para a preservação ambiental, como observa Tatiana Araújo. “O setor do varejo é um setor chave, quando a gente fala das decisões relacionadas a questões climáticas. Porque o varejo acaba influenciando toda a cadeia de suprimentos, desde o produtor até o consumidor. Então, pequenas mudanças que aconteçam no varejo podem gerar um efeito positivo muito grande dentro dessa cadeia.”

Segundo o especialista, hoje o varejo vive pressões vindas de muitos lados. “Nós nós temos o varejo principalmente entre duas pressões: a pressão da indústria, que produz, e a pressão da sociedade civil. E o governo também acaba tendo que lidar com os resíduos produzidos pelo varejo”. 

Para Tatiana, a pressão dos consumidores tem grande efeito nas decisões do varejo atualmente. “Hoje em dia, os consumidores vêm cobrando mais responsabilidade ambiental das empresas. Além disso, os investidores cobram também as ações ambientais das empresas, porque isso pode se reverter num risco para o próprio investimento”.

Estratégias para mitigação e de adaptação climática para o varejo

Para Tatiana Araújo, o varejo precisa começar pela redução de emissões e eficiência operacional, porque isso gera impacto climático e econômico. “Essas ações não só reduzem emissões, mas trazem vantagens econômicas”, afirma. Segundo ela, medidas como substituir equipamentos por versões mais eficientes, otimizar rotas de entrega e testar frotas elétricas fazem diferença, ainda que em fases iniciais. “Frota elétrica funciona melhor hoje em distâncias curtas”, explica, reforçando que cada empresa deve avaliar sua realidade logística antes de avançar.

Além disso, a adaptação aos eventos climáticos extremos exige planejamento concreto. “A gente já vive efeitos reais das mudanças climáticas… então como adaptar cidades e negócios para lidar com isso?”, questiona. Para o varejo, isso inclui avaliar vulnerabilidades básicas, como localização de lojas e centros de distribuição. “Será que meu centro de distribuição está em área de alagamento?”, diz. Outro ponto é rever cadeias de suprimento expostas a riscos climáticos. “Empresas precisam diversificar fornecedores para reduzir riscos.”

Tatiana destaca que nenhuma estratégia funciona sem coerência interna. Antes de qualquer comunicação ao consumidor, ela alerta: “Antes de comunicar, o varejo precisa olhar para dentro.” E reforça que todas as práticas precisam gerar evidências e métricas para financiadores, investidores e para o próprio mercado. “Práticas ESG precisam ser comprovadas. Não é no marketing que se faz, é no planejamento.”

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Continue Reading
Comente aqui

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *