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Economia

Cúpula dos BRICs pode ser decisiva para relações comerciais do Brasil

Os líderes dos países pertencentes aos BRICs se reuniram para discutir questões como a ampliação do bloco econômico e a criação de uma moeda única para transações internas; seis nações foram convidadas a integrar o grupo

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Da esquerda para a direita, presidente do Brasil, presidente da China, presidente da África do Sul, Primeiro-Ministro da Índia e Ministro das Relações Exteriores da Rússia se dão as mãos.

Durante esta semana aconteceu a Cúpula dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Joanesburgo, África do Sul, para discutir questões como a ampliação do bloco, e a busca por mais independência do dólar em transações comerciais internas. Como decisão, o bloco econômico convidou mais seis países a integrar o grupo. Os encaminhamentos da cúpula podem direcionar os caminhos do comércio exterior brasileiro nos próximos anos.

Durante a reunião, o presidente da Rússia, Vladmir Putin não esteve presente, participando somente de forma remota, devido a mandatos de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional em relação a supostos crimes cometidos na guerra com a Ucrânia. A África do Sul, como parte do Tribunal, seria obrigada a executar as ordens de prisão contra o líder russo.

Ampliação do bloco

Um dos principais tópicos discutidos durante os dias da Cúpula foi a possibilidade de ampliar o bloco econômico para mais países. Caracterizado por facilitar relações internacionais entre países emergentes, os BRIC’s decidiram convidar mais seis integrantes: Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

A discussão sobre a ampliação do bloco preocupava agentes internos e externos ao grupo. A ideia de formar um ‘Super BRICs’ era defendida principalmente pela China, seguida de Rússia e África do Sul. O Brasil tinha uma posição mais conservadora sobre o tema, junto à Índia, mas o presidente Lula acabou flexibilizando seu posicionamento, defendendo apenas um crescimento controlado do bloco econômico.

Uma das ressalvas à expansão dos BRICs era gerar um suposto antagonismo aos países do G7. Porém, o governo americano sinalizou não ver o bloco como um rival.

O especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias comenta o assunto: “O Brasil, ao lado de mais países relevantes na geopolítica, teria mais força na hora de negociar com grandes blocos como Estados Unidos, Canadá e México e também a Europa. Tendo Argentina e Emirados Árabes ao seu lado, o Brasil teria mais produtores de commodities, fazendo força e pressão ao seu lado, já que a Argentina também é uma grande produtora agrícola, e os Emirados Árabes de petróleo”, afirma.

O criador do termo ‘BRICs’, Jim O’Neil, disse à BBC News que a ampliação é sem critério, e que não vê pretensão, além de um simbolismo de poder. 

Da esquerda para a direita, presidente do Brasil, presidente da China, presidente da África do Sul, Primeiro-Ministro da Índia e Ministro das Relações Exteriores da Rússia se dão as mãos.

Joanesburgo, África do Sul, 23.08.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, Presidente da África do Sul, Matamela Cyril Ramaphosa, Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Damodardas e Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. Foto: Ricardo Stuckert/PR (Agência Brasil)

Crise econômica na China

Durante a Cúpula, um fator que de destaque, também, é uma crise econômica enfrentada pela China. Essa crise é motivada por diversos fatores, como a diminuição da demanda global por produtos fabricados pelo país, uma resistência de outros países a consumir produtos da China, uma queda nos valores de bens imobiliários e falta de empregos entre jovens. E a preocupação, nesse contexto, é se os países dos BRICs, e especialmente o Brasil, serão impactados por isso.

“Essa crise está desacelerando o crescimento chinês, mas não está impedindo esse crescimento Porém, ela ainda pode afetar sim, o Brasil e os BRICs, uma vez que a China é o maior importador das exportações brasileiras. Então uma queda na pujança econômica do gigante chinês pode fazer com que a atividade econômica brasileira seja afetada, principalmente na área de commodities. O Brasil é um grande exportador de minério de ferro, soja e outras commodities para a China. Então, essa desconfiança com o mercado imobiliário chinês afeta diretamente empresas como a Vale e outros exportadores de minério de ferro, que é um grande produto da pauta brasileira”, explica Dias sobre o cenário.

Moeda única

Outro assunto muito discutido durante a cúpula foi a criação de uma moeda única para os países integrantes do BRICs, para facilitar as transações comerciais, e diminuir a dependência do dólar como moeda de referência. 

Lula deu uma declaração sobre o assunto em Abril, na China: “Toda noite, me pergunto por que é que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar. Por que é que nós não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que é que nós não temos o compromisso de inovar?”.

Porém, nenhuma decisão sobre o assunto foi pronunciada. Sobre esse tópico, Dias comenta: “O próprio criador do termo ‘BRICs’ diz que a criação de uma moeda comum entre os países do bloco atualmente é mais fantasiosa do que prática, uma vez que você precisaria ter um alinhamento filosófico e estratégico entre esses países para a criação de um banco central que fosse comum a todas essas economias. O problema, na prática, é que, historicamente, tanto China quanto Índia não tendem a concordar entre si. Outra coisa importante seria a unificação das políticas monetárias desses países”, explica.

Impactos sobre o comércio no Brasil

De acordo com Dias, as decisões tomadas nessa cúpula podem afetar muito a dinâmica comercial brasileira. “As decisões tomadas nessa reunião podem afetar tanto positivamente quanto negativamente as exportações brasileiras. Caso a gente se alinhe ainda mais a países como Índia e também China, que são países que hoje dominam um crescimento macroeconômico mundial, a gente pode se beneficiar muito dessa carona que o Brasil pode pegar”, afirma.

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