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Futurista Amy Webb projeta 10 temas que devem moldar 2026

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Amy Webb

A futurista Amy Webb, CEO do Future Today Strategy Group (FTSG), publicou sua carta anual com uma revisão de sinais observados em 2025 e uma lista de dez macrotemas que, segundo sua análise, devem orientar decisões corporativas e institucionais em 2026. O texto destaca que tecnologia deixou de ser um setor separado e passou a operar de forma integrada a forças como geopolítica, economia, trabalho, energia e cultura.

Na carta, Webb afirma que a inteligência artificial foi o principal vetor de 2025 e cita que, “apenas em 2025”, empresas de Big Tech investiram “mais de US$ 400 bilhões” em data centers e infraestrutura de IA. Mantido o ritmo, o total investido pode chegar a “quase US$ 7 trilhões” até o fim da década, de acordo com a autora. A análise aponta uma distância entre investimento e retorno, já que, segundo a carta, as receitas diretamente atribuídas à IA não devem acompanhar o volume de capital empregado no período.

Amy Webb atribui parte dessa diferença à dificuldade de adoção em escala nas empresas. “Pilotos abundam, mas não existe um catálogo amplo de fluxos de trabalho duráveis ainda”, escreve. Para 2026, ela indica que o sinal a acompanhar não é desempenho ou benchmarks, mas a taxa de adoção formal dentro das organizações, com foco em mudanças mensuráveis na execução do trabalho e em novos produtos, mercados e crescimento de receita.


Convergências e “internet pós-busca” entre os temas de 2026

Entre os dez temas destacados para 2026, Webb afirma que convergências tecnológicas devem reconfigurar cadeias de valor, encurtar prazos e reduzir fronteiras entre setores. A carta descreve convergências como combinações entre IA e biologia, robótica e software, energia e computação, além de dados e materiais.

Outro ponto é o avanço do que a autora chama de “internet pós-busca”. Segundo o texto, interfaces baseadas em conversação e intenção devem ganhar espaço em relação ao modelo de navegação por abas e links. Webb cita movimentos de empresas como Google, Perplexity, Microsoft e OpenAI para incorporar sistemas de IA a navegadores, e afirma que “a busca costumava ser a porta de entrada para a internet; agora, a conversa é”.

A autora também aponta impactos potenciais sobre o modelo econômico baseado em tráfego de referência e publicidade, ao sugerir que sistemas de IA podem mediar compras e decisões sem a lógica de cliques e afiliados.

Robôs, “trabalho ilimitado” e dispositivos com IA local

A carta inclui um tema dedicado ao aumento de automação física e robótica, descrito como “a ascensão do trabalho ilimitado”. Amy Webb argumenta que o principal entrave histórico para robôs foi cognitivo, e que avanços recentes em modelos capazes de integrar visão, linguagem e ação podem reduzir essa barreira a partir de 2026.

O texto menciona iniciativas e projeções de empresas como Nvidia e Amazon para aplicação de robôs em ambientes de armazéns e logística, além de projetos envolvendo parceiros industriais e hospitais. Webb também cita declarações de Elon Musk sobre produtividade de robôs Optimus. A carta acrescenta que a expansão não deve se limitar a robôs humanoides, mas a sistemas especializados distribuídos em laboratórios, construção, centros logísticos e agricultura.

No campo de eletrônicos de consumo, Webb descreve uma transição para “dispositivos nativos de IA”, com processamento local para tarefas e decisões sem depender integralmente da nuvem. A autora afirma que isso pode reduzir a centralidade do smartphone e abrir espaço para formatos “pós-tela”, citando exemplos de protótipos como Rabbit R1 e Humane AI Pin, e indicando expectativa de novos lançamentos por empresas orientadas a IA.

Biotecnologia, materiais, quântica e “armamentização” da confiança

A carta reúne sinais de 2025 em biotecnologia, incluindo terapias gênicas e celulares, vacinas de mRNA contra câncer, fármacos desenhados por IA e biologia sintética. Amy Webb cita a aprovação pela FDA de Waskyra, terapia gênica desenvolvida por uma organização sem fins lucrativos italiana, como indicador de novos modelos para tratamento de doenças ultrarraras.

Em materiais avançados, Webb descreve o crescimento de metamateriais e a possibilidade de “matéria programável”, com exemplos de pesquisas acadêmicas relacionadas a transmissão de energia, implantes e estruturas com propriedades reconfiguráveis. Em computação quântica, o texto afirma que 2025 marcou a passagem “da teoria para a ação”, citando um algoritmo da Google denominado Quantum Echoes e avanços em estabilidade e correção de erros, com expectativa de aplicações em finanças, seguros, logística e ciências da vida.

No tema de segurança e informação, Webb destaca “a armamentização da confiança” a partir de IA generativa aplicada a engenharia social e mídia sintética. A carta cita clonagem de voz, geração de vídeo e sistemas de tradução como ferramentas que podem ser usadas para ataques, com implicações para comunicação corporativa, reputação e governança. A autora aponta risco de crises em que a atribuição de evidências seja contestada por conteúdo gerado por IA.

Reconfiguração da globalização e cadeias de suprimentos

A análise inclui um tema que a autora chama de “reset da globalização com ‘segurança em primeiro lugar’”. A carta afirma que políticas econômicas devem priorizar segurança nacional, com reclassificação de setores como semicondutores, energia, alimentos, dados, biotecnologia e logística como ativos estratégicos. O texto menciona a substituição de estratégias de eficiência por redundância e resiliência, com avanço de controles de exportação, sanções, subsídios, política industrial e triagem de investimentos.

Na dimensão geopolítica de IA, Webb contrasta abordagens dos Estados Unidos e da China. A carta diz que a China deve formalizar seu direcionamento no próximo plano quinquenal, previsto para março, com um cronograma em três fases: incorporação de IA em seis domínios até 2027, adoção ampla até 2030 e evolução para uma “sociedade inteligente” até 2035.

Sinais de 2025 citados pela autora

A carta de Amy Webb reúne uma lista de sinais em diferentes frentes. Entre eles, a carta menciona:

  • energia como restrição para expansão de data centers, com empresas de tecnologia buscando acordos e alternativas de fornecimento;
  • crescimento de chips aceleradores especializados e arquiteturas híbridas (borda, nuvem e on-premise);
  • aumento de exigências regulatórias para rotulagem e divulgação de conteúdo gerado por IA em publicidade e mídia;
  • uso ampliado de dados e trabalho humano (rotulagem, feedback e julgamento especializado) como dependência estrutural da cadeia de IA;
  • mudanças em tarefas e funções de trabalho, com criação de papéis de supervisão e avaliação de sistemas de IA;
  • evolução de sourcing e cadeias globais, com citação a países do Sudeste Asiático, Índia e América Latina, incluindo México, Brasil e Colômbia.

Ao encerrar a carta, Webb afirma que líderes em 2026 devem se preparar para adaptações contínuas, argumentando que as mudanças descritas não se limitam ao setor de tecnologia e devem afetar empresas fora de polos tradicionais de inovação.

Imagem: Stephen Olker/SXSW
Tradução e adaptação: Central do Varejo

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