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Sinal de alerta: O franchising brasileiro está ameaçado

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Tenho observado diversas propagandas de empresas buscando investidores para seus negócios, através de tráfego pago, nas mais diversas redes sociais, Google Ads, Linkedin e canais de captação. Não há nada errado nisso. Porém, o que me chamou atenção nos últimos meses, é um crescimento significativo de redes que buscam investidores, mas citam que ” NÃO SÃO FRANQUIAS”. Ou seja, buscaram outros formatos para sua expansão, como licenciamento, representação, concessão de marca, entre outros caminhos.

Eu mesmo já citei em artigos aqui, que a análise de franqueabilidade tem exatamente esse objetivo, para mostrar que algumas vezes o caminho para expandir não é através do franchising, existem, sim, outros caminho que algumas vezes podem ser mais benéficos para o modelo de negócios.

Mas o que me chamou atenção mesmo, é que tenho a impressão que de maneira implícita, essas empresas estão tentando dizer que seu modelo é melhor do que o modelo de franquias, ou seja, dando a conotação de que o modelo de franquias está esgotado, e que ser uma franquia é algo “ruim”. Daí usam o slogan “NÃO SOMOS FRANQUIA”, “MELHOR QUE FRANQUIA”, ou tenha um negócio “COM BENEFÍCIOS DE FRANQUIA”, mas sem ser franquia.

Já vimos no passado algumas empresas que tem formato muito similar ao do franchising, mas optam por seguir por licenciamento. No mercado são apelidadas de “Franquias Light”, pois a lei do franchising é bastante rígida, e algumas empresas querem um pouco mais de flexibilidade e liberdade para operar no mercado e fazer a expansão. A mim, não cabe esse julgamento se deveriam ou não ser franquias, ou se licenciamento é o melhor caminho, pois teria que analisar o modelo de negócios e refazer toda a análise de franqueabilidade para um diagnóstico, e isso é complexo e leva tempo.

Agora, empresas fazendo divulgação de expansão de negócios, e buscando se “descolar” do modelo de franquias, como algo POSITIVO, tenho visto com frequência, e isso particularmente me preocupa.

E por que?

Me pergunto: Será que o modelo de franchising no Brasil está esgotado ?

Posso responder essa pergunta, com outra pergunta: o franchising está crescendo? Sim, ele cresce ano a ano, com ou sem crise, é bastante resiliente.

Porém, o problema é que o crescimento não me parece sustentável. A forma como estão fazendo expansão de negócios em franquia precisa ser revisto, com certa urgência. O turn over ou repasse de franquias nunca foi tão alto, e existem empresas especializadas nisso se proliferando por todos os cantos. Além disso, empresas de “formatação de franquias”, “Aceleradoras”, “Consultorias”, “Agências de tráfego milagrosas”, fazendo propaganda por todos os cantos, prometendo que seu negócio pode ser uma franquia, pode abrir centenas de lojas em um estalar de dedos, e todos tem a “FÓRMULA DO CRESCIMENTO”.

Vamos conhecer algumas dessas empresas, e os “consultores” ou sócios da empresa, tem 2 a 3 anos de experiência no segmento. Outros dizem ter “vendido” 500, 1.000 franquias em curtíssimo período de tempo, e que vão fazer isso pela sua empresa. Outra coisa que muito me estranha, é uma franqueadora que não tem operação própria, e quer expandir com uma “ideia” através de franquias, sem sequer ter testado o modelo. Ou testa 1 loja, vende para algum franqueado, e vira “franqueador profissional”, vivendo de royalties e taxas, sem ter uma operação para testes, ajustes, aprendizados e daí sim poder “transferir know-how”.

Amigos do franchising e de expansão de negócios e varejo, o franchising está adoecendo. Esse crescimento desordenado, sem FUNDAMENTOS, está criando uma “bolha” que vai estourar em algum momento. Esse “descolamento” de algumas redes que não querem usar “franquia” como seu modelo de negócios são um sinal disso. Os candidatos que compram essa tese, também estão demonstrando que são avessos ao modelo de franquias, provavelmente porque tiveram experiências ruins, ou escutaram noticias ruins sobre franquias, e não querem seguir por esse caminho.

Fica aqui uma dica e contribuição aos franqueadores, novos e antigos, ou aqueles que estão pensando em entrar no segmento (ou fugir dele):

Voltemos á essência do Franchising, tendo como objetivo primário o “SUCESSO DO FRANQUEADO”.

Sua franqueadora tem um departamento de “SUCESSO DO FRANQUEADO”? Não, não é o SAF, nem a Consultoria de Campo. O que estou falando é se tem uma área dedicada a analisar o SUCESSO DO FRANQUEADO, a sua SATISFAÇÃO, o retorno de seu INVESTIMENTO. Sua equipe olha para o SELL OUT ou somente para o SELL IN? Se preocupa com a lucratividade da franqueadora, mas não olha o demonstrativo de resultados do franqueado?

Tem NPS? Tem pesquisa de Satisfação do franqueado? Participa do Selo de Excelência da ABF (e mais do que isso, monta plano de ação com base na pesquisa do Selo)? Consegue tirar o plano de ação do papel? Sua empresa tem mindset de EXECUÇÃO?

Esse assunto é bastante complexo. Eu estou preocupado com o momento atual do franchising, e você? Afinal, um dos principais canais de empreendedorismo do país, diversos novos empresários, milhares de empregos, milhões de clientes, esse é um segmento muito importante para nossa economia e o país. Conheço diversos franqueados que mudaram suas vidas (para melhor) através das franquias, e diversos franqueadores muito bem sucedidos também.

Mas estamos em um momento de inflexão. Se redes estão “fugindo” do franchising para se diferenciar e crescer, e os candidatos também estão fugindo das franquias, temos um problema sistêmico aqui.

Proponho então que as franqueadoras voltem a se preocupar genuinamente com o SUCESSO DO FRANQUEADO. Se isso voltar a ser percebido, o valor das franquias estará blindado. Se não houver ou forem perdendo essa percepção, teremos um colapso.

Sou gestor de algumas redes de franquias, através de uma holding, e já estou com foco nisso aqui.

Convido você, que respeita o franchising e se empenha no crescimento, que respeita os franqueados e todos os stakeholders desse segmento, a levantar a mesma bandeira e fazer o mesmo.

Está em nossas mãos, resgatar a credibilidade do franchising brasileiro.

Imagem: Envato


Ivan Ferreira*Ivan Ferreira é COO da Holding de franquias Japp, de João Appolinário, com as marcas de franquias Decor Colors, Polishop, Mega Studio, Wise Home e outras. É consultor de franquias e varejo com MBA de franquias da FIA/ABF, além de especialista em análise de franqueabilidade e canais, formatação e gestão. Master Franqueado de uma rede de açaí, também já contribuiu com os Comitês de BI, Moda, Food Service e Expansão da ABF.

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