Connect with us

Operação

SouthRock tem executivos investigados pela Polícia Civil

Acusações de credores são de estelionato e fraude; empresa nega

Published

on

Fachada de loja do Starbucks; SouthRock

A Polícia Civil de São Paulo investiga executivos da SouthRock Capital, empresa responsável pela gestão do Starbucks no Brasil, por suspeita de crimes como estelionato, falsidade ideológica e apropriação indébita contra credores. A investigação, que ocorre durante o processo de recuperação judicial do Starbucks para reestruturar suas dívidas de R$ 1,8 bilhão, tem foco em um empréstimo de R$ 75 milhões que teria sido obtido após a manipulação dos balanços patrimoniais.

O inquérito, iniciado em dezembro do ano passado e obtido pelo portal O Globo, tem como alvos o CEO e fundador da SouthRock, Kenneth Pope, o diretor financeiro do grupo, Fábio Rohr, e o gerente financeiro do Starbucks, Marcos de Jesus Carvalho. 

As acusações surgiram de uma notícia-crime registrada pela Ibiuna Investimentos e pela securitizadora Travessia, que são responsáveis pela operação de crédito. A Polícia Civil investiga alegações de que os executivos teriam falsificado demonstrativos financeiros e apresentado aos credores para, de acordo com o inquérito, obter vantagens ilícitas.

Em uma acusação adicional feita na última segunda-feira (19), os credores também afirmam que o CEO da SouthRock obteve um empréstimo de R$ 20 milhões da própria empresa, em uma operação ocultada da Justiça e dos credores. Representantes da Travessia acusam o executivo de desviar o valor em benefício próprio e pedem o afastamento de Pope do comando do grupo.

Em recuperação judicial desde outubro de 2023, a SouthRock, que opera no Brasil empresas como Starbucks, Eataly e TGI Fridays, teria alterado documentos para obter empréstimos e ocultar a verdadeira situação da empresa. A Ibiuna e a Travessia concederam crédito para a gestora ainda em 2022, após apresentar documentos que supostamente comprovavam que o Starbucks tinha uma boa saúde financeira.

Um ano depois da concessão do empréstimo, que seria pago em 48 parcelas mensais até 2026, os credores descobriram uma “adulteração” dos demonstrativos financeiros, para que acreditassem que o grupo SouthRock e o Starbucks Brasil, segundo o inquérito, “possuíam uma saúde financeira que os permitiria honrar com suas dívidas – quando, na verdade, o real nível de endividamento do conglomerado apontava para uma tragédia anunciada”.

De acordo com os advogados que representam a Ibiuna e a Travessia, o Starbucks teria deixado de pagar as parcelas do acordo.

Os credores ainda alegam que a empresa ocultou diversas dívidas não só da rede de cafeterias, mas também de outras empresas operadas pelo grupo. Dois Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) de R$ 66 milhões cada estariam entre os débitos ocultos, não incluídos no balanço mostrado no momento da negociação do acordo. Além disso, a SouthRock teria omitido a existência de holdings endividadas como a SRC 6 Participações e a KD 01 Participações, que somadas tinham dívidas de aproximadamente R$ 400 milhões.

A alegada manipulação dos balanços patrimoniais teria incluído também a apresentação de valores inferiores dos royalties pagos pela SouthRock à detentora global da marca Starbucks. Em junho de 2023, o balanço patrimonial do Starbucks Brasil indicava que os royalties totalizavam R$ 21,3 milhões. No entanto, o valor real seria de R$ 63,4 milhões.

Além disso, a Polícia Civil está investigando se a SouthRock substituiu as máquinas de cartão utilizadas na rede Starbucks com o objetivo de evitar a arrecadação dos recebíveis cedidos como garantia do empréstimo. As autoridades policiais solicitaram esclarecimentos de duas operadoras de máquinas de cartão para auxiliar nas investigações.

A Travessia acusa Kenneth Pope de fraude, manipulação de documentos contábeis e ocultação de transações financeiras. De acordo com os advogados da securitizadora, o CEO da SouthRock teria contraído R$ 20 milhões em dívidas da própria gestora, as quais não foram incluídas na relação de valores a receber pela empresa no pedido de recuperação judicial.

O montante em questão é revelado em declarações de Imposto de Renda do executivo, acessadas pela securitizadora e apresentadas à Justiça. Nestes documentos, o CEO declara à Receita Federal duas tomadas de crédito junto à SouthRock em 2022 — no valor de R$ 2,8 milhões e de R$ 4,3 milhões. Ao final de 2023, Pope declara uma dívida total de R$ 19,5 milhões.

A Travessia argumenta que, ao ocultar esse valor, o CEO e o diretor financeiro da SouthRock levaram os credores e a Justiça ao erro e encobriram o montante milionário a ser recebido pela empresa. Os advogados da Travessia afirmam que Pope teria subtraído o valor da empresa “para vantagem pessoal em detrimento da coletividade de credores”. Acrescentam ainda que a fraude só poderia ter ocorrido com o consentimento do diretor financeiro Fábio Rohr, que “sempre assinou as demonstrações financeiras e outros documentos contábeis das empresas do grupo”.

Em nota, a SouthRock nega veementemente as acusações e informa que “os valores mencionados constam no balanço da empresa e no Imposto de Renda do sócio”. A empresa também afirma que todas as transações foram realizadas “anos antes do processo de Recuperação Judicial” e que foram “devidamente documentadas”.

Fachada de loja do Starbucks; SouthRock

Imagem: Reprodução/Kelly Karine Knevels