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Economia

Como mudanças climáticas afetam abastecimento de energia no Brasil?

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A Usina Hidrelétrica de Belo Monte é uma usina hidrelétrica brasileira da bacia do Rio Xingu, próximo ao município de Altamira, no norte do estado Pará

No Brasil, as mudanças climáticas têm desequilibrado a distribuição de água e energia elétrica, causando prejuízos para o País e para o comércio varejista. Até a semana passada, São Paulo ainda sofria com o apagão elétrico que começou na sexta-feira, 11, após uma forte tempestade. De acordo com a Fecomércio, a falta de energia custou ao menos R$ 1,65 bilhão para o varejo, além de inúmeros outros custos para a população local.

Em outubro, está vigente a bandeira tarifária vermelha na conta de energia elétrica, o que causa grande impacto na inflação oficial. Diante disso, o governo discutiu a volta do horário de verão para evitar desabastecimento; porém, o Ministério de Minas e Energia decidiu não retomá-lo em 2024, mas deixou aberta a possibilidade em 2025.

Para falar sobre as formas que as mudanças climáticas podem afetar o abastecimento de água e energia no Brasil, a Central do Varejo conversou com Kim Lima, Diretor de Comercial e Marketing da Evolua Energia. Acompanhe a entrevista na íntegra:

1 – Com as intensas chuvas que têm acontecido em curtos períodos de tempo, seguidas de longas secas, a produção de energia elétrica no Brasil, que usa hidrelétricas, fica prejudicada?

Nesse momento de chuvas fortes, as hidrelétricas são beneficiadas, principalmente as pequenas hidrelétricas, que não possuem um volume tão grande de água e acabam sendo muito impactadas, pois não conseguem energia suficiente para movimentar as turbinas. Então, elas realmente param de produzir. As chuvas são fundamentais para que possamos ter um aumento dos reservatórios, permitindo, de fato, a geração de energia hidrelétrica.

2 – Quais são os principais motivos da tarifa vermelha que está vigente?

A tarifa vermelha surge principalmente por causa das secas. Como mais de 60% da energia consumida no Brasil vem de hidrelétricas, quando não há chuvas suficientes, não se consegue movimentar a água para empurrar as turbinas e gerar energia, que é o modelo de funcionamento das hidrelétricas. Isso causa um impacto muito grande no Brasil. Portanto, as chuvas são fundamentais para o sistema de geração de energia do país.

Outro ponto é a questão das bandeiras tarifárias — verde, amarela, vermelha P1 e P2 — que seguem uma lógica de oferta e demanda. Quando há escassez de um produto, no caso, o insumo principal, que é a água que passa pela turbina e gera energia, a produção de energia é afetada. Com menos energia disponível, é preciso aumentar o valor para reduzir o consumo. Ou seja, já que não há tanta energia disponível, ela tem que custar um pouco mais caro para controlar o consumo e evitar o risco de falta de energia para todos. Basicamente, o conceito das bandeiras tarifárias segue essa lógica econômica.

3 – Como o apagão em São Paulo mostra a vulnerabilidade do sistema elétrico no Brasil atualmente?

Muitos países ao redor do mundo utilizam a fiação subterrânea. Aqui no Brasil, isso ainda é pouco comum. Quando se tem esse tipo de estrutura de cabeamento por postes na superfície, em momentos de vendaval ou qualquer outro tipo de intempérie, acaba-se tendo um grande impacto. Se essa estrutura fosse subterrânea, talvez o impacto fosse bem menor, especialmente em uma grande capital como São Paulo, que poderia ter uma infraestrutura mais adequada para esses cabeamentos

4 –  Uma possível volta do horário de verão ajudaria a economizar energia?

O horário de verão acaba ajudando a conter o pico de uso de energia, pois o conceito é que a pessoa chegue em casa enquanto ainda há luz natural, evitando a necessidade de acender todas as luzes ao mesmo tempo em que toma um banho quente. Isso diminui o consumo exacerbado em um momento específico. Quando todo mundo consome energia ao mesmo tempo, não é possível atender a toda a demanda. 

O horário de verão ajuda justamente a evitar esse pico de consumo, economizando energia em um momento crítico, especialmente considerando nossa matriz energética, que é muito dependente das hidrelétricas. Quando enfrentamos problemas de falta de chuva, que impactam os reservatórios, é necessário algum controle para evitar picos de consumo que possam prejudicar o fornecimento para outras pessoas.

5 – Um cenário de desabastecimento com as mudanças climáticas é possível? Que mudanças são esperadas?

O desabastecimento devido às mudanças climáticas é totalmente possível, claro. No entanto, nos últimos dois anos, não tivemos bandeira tarifária, o que não era muito comum de acontecer, pois tivemos boas chuvas. Passamos esse período sem enfrentar grandes problemas, e agora, com o retorno das bandeiras, isso chama mais atenção. No futuro, se não cuidarmos do meio ambiente, essa situação pode se agravar. A diversificação das fontes energéticas é fundamental. 

Em períodos de seca, por exemplo, quando não há chuvas e o céu está limpo, é um ótimo momento para a geração de energia solar. Ter uma matriz diversificada permite que, mesmo quando falta sol ou chuvas, ainda possamos contar com a energia eólica. A participação dessas outras fontes ajuda a evitar problemas de desabastecimento. 

Mudanças no clima são esperadas, então é essencial buscarmos uma matriz energética limpa. Embora a matriz brasileira seja predominantemente limpa, ela ainda é muito dependente das hidrelétricas. Se não há chuva, todo o sistema é impactado. No entanto, se tivermos uma matriz suficientemente diversificada, como a energia solar, será possível atender à demanda de toda a população, empresas e indústrias de forma mais adequada, independentemente das intempéries ao longo do ano.

Imagem: Usina de Belo Monte. Foto: TV Brasil / Agência Brasil

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