Franchising
O que você pode aprender sobre gestão com Carlos Burle, brasileiro que enfrentou as maiores ondas do mundo

Reconhecido como o 1º campeão mundial de ondas gigantes, Carlos Burle transformou sua jornada como surfista profissional em uma verdadeira aula de mentalidade, preparação e superação. No palco do Franchising Summit Brasil 2025, ele entregou um conjunto de reflexões práticas sobre liderança, disciplina e constância, valores universais para empreendedores e gestores.
Burle cresceu em um contexto adverso. O surfe, em sua juventude, carregava estigmas e pouca credibilidade. Com apoio limitado, ele decidiu profissionalizar seu sonho por conta própria — redigiu um contrato de comprometimento pessoal, criou sua própria carta de patrocínio e iniciou sua jornada com um norte bem definido.
Ao perceber que o Nordeste não oferecia as condições ideais para sua evolução, deixou o conforto de casa e, com esforço, chegou ao Havaí, berço do surfe mundial. Lá, ao invés do glamour esperado, enfrentou hostilidade por ser estrangeiro. Sofreu agressões físicas e verbais. Mas ali, na adversidade, fortaleceu a mente.
“Voltei do Havaí não mais como garoto, mas como alguém mentalmente preparado para decisões sob estresse. E foi isso que fez diferença ao longo da minha carreira.”
Alta performance: preparação física, mental e estratégica
Para alcançar excelência no surfe de ondas gigantes, Burle percebeu que apenas a vontade não bastava. Era preciso preparo total: corpo, mente e estrutura logística. Isso envolveu:
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Treinos físicos e respiratórios para controle em situações extremas
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Domínio técnico de resgates e equipamentos (jetski, segurança)
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Equipes profissionais multidisciplinares
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Logística internacional complexa
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Gestão de risco contínua
Essa disciplina o levou a quebrar barreiras. Em 1998, conquistou o campeonato mundial de ondas grandes, mesmo após se ferir na semifinal. Mais tarde, se tornaria o primeiro brasileiro no Guinness Book, ao surfar a maior onda registrada até então.
Mentalidade de protagonista
Burle construiu sua reputação longe da zona de conforto. Enquanto colegas reclamavam da falta de apoio, ele criou narrativas e conteúdo em um tempo em que ninguém falava em marketing de conteúdo, posicionando-se como uma marca própria.
Ele foi pioneiro ao entender o valor da imagem pública: contratou assessoria de imprensa, se preparou para entrevistas, e cuidou da forma como o surfe era percebido por quem estava fora do nicho esportivo. A quebra de preconceitos abriu caminho para novas gerações de surfistas brasileiros, como Gabriel Medina.
Além disso, a carreira de Carlos Burle foi marcada pela consciência de que nenhuma grande conquista é feita sozinho. Sua entrada para o Guinness só foi possível graças à atuação coordenada de uma equipe — desde quem o puxou com o jetski, até quem coordenava a comunicação.
Hoje, ele é um exemplo de construção de marca pessoal sólida, com parcerias como a Red Bull, com quem mantém uma relação de mais de 25 anos. Foi um dos quatro atletas escolhidos para lançar a marca no Japão, ao surfar um tufão em um evento inédito.
Medo como ferramenta
Burle também destacou a importância de não romantizar o risco. “O medo é uma ferramenta. Ele não pode ser ignorado, mas precisa ser acolhido e gerido com inteligência”, afirmou.
Em suas palavras, coragem não é ausência de medo, mas sim a capacidade de agir com lucidez mesmo em cenários extremos, como quando entra no mar enquanto autoridades evacuam praias e fecham portos.
Ao final, Carlos Burle deixou uma lição que ressoa com o surfe e também com o mundo dos negócios: “Eu não tinha vantagens sobre meus concorrentes. Eles tinham as ondas, o patrocínio e a estrutura. Mas eu tinha a vontade, a estratégia e a disciplina. O movimento me levou ao conhecimento. E o conhecimento me levou ao extraordinário.”
Imagens e informações: (*) Patricia Cotti – Ganhadora do Digital Transformation Awards, Sócia Diretora da Goakira, Diretora de Pesquisa do IBEVAR, Colunista Central do Varejo, Professora dos MBAs da FIA, ESPM, ESECOM, USP.