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FRANQUEADOR não é FRANQUEADO

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FRANQUEADOR

Vou pedir licença para parafrasear o empresário João Appolinário, que diz em seu livro e repete com frequência que “O ÓBVIO PRECISA SER DITO”, porque se fosse realmente óbvio, não precisaria ser dito.

Coloquei a imagem de um dicionário aqui, pois o portal UOL em notícia recente, faz uma confusão para informar a mortalidade de franquias no Brasil, portanto, cabe esclarecimento do óbvio, que pode não ser óbvio para muitos.
A matéria de 12/01/25 tem como manchete:

MORTALIDADE DAS FRANQUIAS: APENAS 6,7% SOBREVIVEM APÓS 2 ANOS DE OPERAÇÃO

Isso está na manchete. Daí você entra para ler o conteúdo e uma consultoria cita que:

“MORTALIDADE DE FRANQUIAS É ALTA: de 357 novas franquias lançadas, apenas 24 conseguem chegar ao segundo ano de operação, ou seja 6,7% sobrevivem.”

Quando a consultoria cita “franquias lançadas”, ela está querendo dizer novas “franqueadoras” lançadas, ou seja, novas marcas ou novas redes, e não novas unidades franqueadas. E daí por diante, seguem-se outros textos e opiniões de outros profissionais do setor, mas com a matéria já prejudicada por causa da confusão das palavras, do conceito.

Vamos traduzir as palavras com o dicionário:

FRANQUEADOR

Segundo o Sebrae, “Franqueador é o empreendedor detentor dos direitos sobre determinada marca ou patente que formata um modelo de negócio e cede a terceiros (franqueados) o direito de uso dessa marca ou patente, bem como do know-how por ele desenvolvido”.

FRANQUEADO

Segundo o dicionário Aurélio: “Que se franqueou, recebeu permissão para a realização de alguma atividade. Que recebeu franquia, licença para realizar alguma atividade; que possui essa franquia liberada pelo franqueador.”

Ou seja, amigos leitores, não se pode confundir mortalidade de franquias, com mortalidade de franqueadoras, pois desvirtua completamente o conteúdo da matéria e do texto.

A ABF (Associação Brasileira de Franchising) anualmente faz balanço com seus associados, que são cerca de 1.500 marcas, e apresenta os dados coletados trimestralmente, onde fornece dados de abertura de FRANQUIAS e fechamento de FRANQUIAS. Nenhum estudo sobre abertura e fechamento de FRANQUEADORAS. Fica aqui minha crítica á entidade, deveria dar visibilidade para isso, e já falei isso pessoalmente aos líderes da entidade ou quem cuida da área de inteligência de mercado.

No Brasil, estima-se que existem pouco mais de 3300 marcas ou empresas franqueadoras, ou seja, menos da metade são associados da ABF, mas em número de unidades de franquias, estima-se que a ABF contenha mais de 80% desse universo.

Não existem estudos oficiais e recorrentes sobre abertura e fechamento de franqueadoras. Existem sim dados da ABF e do Sebrae que monitoram abertura e fechamento de unidades franqueadas, as FRANQUIAS, pois é possível identificar abertura de fechamento de CNPJ’s em órgãos oficiais. E mesmo quando um franqueado não tem sucesso, muitas vezes consegue vender seu negócio , o chamado “REPASSE” para outro empreendedor ou franqueado da própria rede, e não fecha a empresa, conseguindo a manutenção daquela franquia por mais tempo.

Esse REPASSE inclusive, é uma das fortalezas do franchising. Dados do SEBRAE estimam que 50% de micro e pequenas empresas não passam de 3 anos abertas no Brasil. Esse numero cai para 15% no caso de franquias, e um percentual dessa diferença está no chamado REPASSE. Outra parte está, de fato, na transferência de know-how do negócio, que já foi testado e ajustado, e tende a maior probabilidade de sucesso.

Agora, e quanto as FRANQUEADORAS? Quantas abrem , quantas fecham, quantas seguem a cartilha de testar seu modelo antes de franquear um negócio?

Um dos meus textos aqui na CENTRAL DO VAREJO, fala exatamente sobre o risco que estamos vivendo no franchising, com marcas e empreendedores que não estão cumprindo todas as etapas de ‘análise de franqueabilidade” e alguns nem tem operação própria e já saem vendendo uma “ideia” que não faz parte do conceito de uma franquia.

Existe uma “percepção” em nosso mercado, que de fato, muitas novas FRANQUEADORAS estão aparecendo, e muitas desaparecendo também, e muito rápido. Isso é preocupante, e requer atenção, acompanhamento e medidas de quem faz um franchising sério. A própria ABF conseguiu há poucos anos adequar a Lei do Franchising, e incluir artigos com objetivo de transparência e ajudar quem busca esse segmento.

Mas, me parece que muitas FRANQUEADORAS ficam pelo caminho, e consequentemente, os FRANQUEADOS também, o que é ainda pior, pois muitas vezes esse pequeno empresário colocou suas economias de vida nesse negócio, um sonho, que pode virar um pesadelo.

Já os FRANQUEADORES que querem que seu negócio se torne perene, precisam consultar os livros, cursos, benchmark, entidades, consultorias, se cercar de informação (rica) para que possa ultrapassar a barreira das 56 unidades franqueadas, que é a média que as redes tem em suas bases no Brasil. Muito pouco se comparado a mercados maduros, mas podemos dizer que o Franchising no Brasil ainda não atingiu sua maturidade, teve seu crescimento a partir da década de 90, e ainda tem muito que aprender e se fortalecer.

E, para se fortalecer, a TRANSPARÊNCIA é a palavra de ordem, a chamada COF (circular de oferta de franquia) exige documentações da franqueadora, lista de franqueados, lista de ex-franqueados (com telefone e contatos), lista de fornecedores, processos em andamento, balanço da empresa, ou seja, os candidatos têm acesso a bastante informação para saber em qual franquia pode investir. Na contrapartida, o FRANQUEADOR também pede ao candidato uma série de documentos, analise de crédito, antecedentes, Imposto de Renda, comprovantes, curriculo, testes, pois de fato se trata de um “processo seletivo”, mas de mão dupla.

Agora, a crítica aqui fica a dados informados sem divulgação de fontes. Ou seja, as estatisticas que citei lá na reportagem acima, não foi divulgada ou não está clara a fonte. E confunde o leitor, sem deixar claro o que é um FRANQUEADO e o que é um FRANQUEADOR , o que induz a interpretações equivocadas.

Sim, amigos , o Franchising passa por um momento de inflexão. Requer e precisa de mais empreendedores com PROPÓSITO, seriedade, ética e bom senso para lançar e expandir franquias. Portanto, mais do que nunca, precisamos de fontes confiáveis de leitura e consulta, para tomada de decisão de candidatos e investidores.

Eu gostaria, e muito, de ter acesso a essa pesquisa que diz que em 2 anos apenas 6,7% das FRANQUEADORAS, ou mesmo das FRANQUIAS, continuam abertas. Fica aqui meu pedido (e desafio) para que publiquem isso, para que possamos entender melhor do que estão falando, e quem sabe, buscar alguma correção.

Imagem: Envato


Ivan Ferreira*Ivan Ferreira é COO da Holding de franquias Japp, de João Appolinário, com as marcas de franquias Decor Colors, Polishop, Mega Studio, Wise Home e outras. É consultor de franquias e varejo com MBA de franquias da FIA/ABF, além de especialista em análise de franqueabilidade e canais, formatação e gestão. Master Franqueado de uma rede de açaí, também já contribuiu com os Comitês de BI, Moda, Food Service e Expansão da ABF.

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